Em tempos de plataformas digitais, onde por dia são lançadas milhares de músicas e no geral todas com a mesma estética, ouvir um som diferente é um respiro.
A Kanduras nos traz esse ”ar novo” em suas canções. A banda independente, cria letras marcantes e o som que produzem é muito gostoso de ouvir, acredito que o Sax seja parte desse diferencial.
O grupo formado por 6 amigos, está em ascensão, eles têm 2 EPs Caminhar, 2016 e Seus planos 2017, e para esse ano estão preparando o lançamento da parte um do álbum, Dístico, que já conta com dois singles lançados, Pedí a conta e Ave de Nós. A parte dois do álbum está prevista para o primeiro semestre do ano que vem.
A kanduras nos concedeu uma entrevista contando curiosidades sobre o processo de criação do disco Dístico , e nos deram a sua visão sobre o mercado musical, confira abaixo:
Gazeta da Notícia– Vocês estão se preparando para lançar o terceiro trabalho da banda, como foi o processo de criação?
Kanduras – Roberto, o processo de criação do novo disco foi bem mais amplo, complexo e gostoso do que o realizado nos trabalhos anteriores.
A gente gravou lá no estúdio Parede-Meia, mas o trabalho começou bem antes disso.
Todos nós passamos por mudanças significativas em nossas vidas de 2018 pra 2019. O disco fala um pouco dessas alterações, desse momento de tantas divisões. O disco apresenta o tempo todo algum tipo de dualidade, algum movimento que faz parte do cotidiano, alguma mudança. De postura, de fases, de amores. É sempre sobre dois.
Tivemos a sorte de ter a produção musical nas mãos do André Bedurê, que é um cara fora de série. Passamos muitos meses arranjando as músicas, ensaiando, testando coisas, refletindo sobre o que tava rolando nas composições. Quando a gente chegou no estúdio, tava tudo afinado, igual time de futebol quando tá bem entrosado, tava soando fácil, sabe?
Aliás, aí mora uma curiosidade interessante. Normalmente os instrumentos são gravados separadamente, canal por canal, é o usual. O André, no entanto, percebeu que o time tava bem e sugeriu de gravar as bases ao vivo, todo mundo junto.
Fizemos isso e fez enorme diferença porque a energia, o feeling, a pulsação ficaram registrados também, é bem nítido observando agora.
Mas claro que fizemos ajustes ao longo dos dias. Os metais, teclados e vozes foram gravados posteriormente, por exemplo.
Gazeta da Notícia – “Pedi a Conta” é o primeiro single do novo álbum, nos conte um pouco sobre ele;
Kanduras – Pedi a Conta narra uma reflexão de alguém com seu próprio mundo, uma reflexão sobre como levar a vida em 2019. É sobre esse atual momento em que somos tragados por um sistema que nos desumaniza, para que sejamos cada vez mais produtivos. Sem tempo para nos darmos conta do que sentimos, acabamos por normatizar nossa apatia.
Gazeta da Notícia – Como vocês enxergam o mercado de streaming?
Kanduras – É difícil fazer uma avaliação sobre esse mercado. Antes as mudanças se davam vagarosamente, de modo gradual, no decorrer de muitos anos, às vezes décadas. Hoje, com os streamings, plataformas digitais, as mudanças acontecem a cada semana. Lançar música hoje já é bem diferente de lançar em 2018, é tudo difícil de medir, muito louco.
A gente observa que muitos artistas não têm lançado discos inteiros, com 10 faixas. A tendência de mercado é single, EPs com 2, 3 músicas. Vamos atender ao pessoal com mais pressa e o disco será lançado em duas partes. A vida anda cada vez mais rápida, pessoal anda meio apressado, estafado, a ansiedade é um mal do século XXI. Então, nesse sentido, chegamos em meio à essa dicotomia frenética e oferecemos, no final, um respiro com um disco de 10 músicas recheado de peculiaridades, cheio de dualidades, de serenidades e divisões.
Gazeta da Notícia – O que a Kanduras quer levar para o público e mercado musical?
Kanduras – Roberto, até hoje a gente sempre teve como método não pensar em consequência alguma no momento em que vamos para o estúdio arranjar as músicas, gravar, etc. Foi assim nos trabalhos anteriores e permaneceu dessa forma nesse novo disco. A gente preserva desse jeito porque o processo todo fica mais sincero, mais honesto. É melhor pra todo mundo, pra gente que faz e pra quem chega e se depara com a Kanduras.
Os dois EPs lançados anteriormente, “Caminhar”(2016) e “Seus Planos”(2017), foram gravados e produzidos pelo nosso querido amigo Sami Orra, na casa dele. Foram trabalhos muito importantes pra nós, o Sami tirou um som orgânico ótimo que retratava exatamente aquele momento da banda. A Kanduras tava se formando, estávamos em fase de conhecimento de cenário, de condições, de mundo e de nós mesmos também. Por causa desses dois EPs, tocamos em várias casas de show por São Paulo e Minas Gerais. Tocamos em festivais como a SIM SÃO PAULO, tocamos no Hacktown, em MG, tocamos no Sesc… Nem a gente esperava essas coisas, então foi uma fase fundamental de auto-conhecimento.
Agora, depois disso tudo, a responsabilidade é bem maior, são 10 faixas, um primeiro disco cheio e algumas pessoas esperando esse trabalho novo após um tempo longo sem nenhum lançamento, o último foi em 2017… Além disso, dá pra dizer que depois de três anos já compreendemos um pouquinho desse negócio que é ter uma banda nos tempos digitais. Queremos ampliar o nosso alcance e temos, ao mesmo tempo, curiosidade em saber se a galera que curte nosso som vai gostar dessa nova fase. Tem gente esperando o disco lá no instagram e até mesmo num grupo de whatsapp que tem os fãs da Kanduras. É engraçado.
Gazeta da Notícia – Vocês acham que artistas devam se pronunciar sobre o momento político que vivemos? Qual a visão da banda?
Kanduras – Olha, Roberto, não achamos que deva ser uma obrigação, mas é estranho pra gente que muitos artistas de grande porte não se manifestem em meio a esse cenário tão absurdo no qual nosso país está vivendo. Se a gente comparar com os gigantes da história da música brasileira, então… sem dúvidas é um pouco frustrante, mas faz parte, é preciso respeitar o posicionamento de todos. Às vezes é até melhor não se posicionar do que ter um posicionamento que no fundo é exclusivamente comercial, tem muita gente por aí colando em algumas pautas importantes pra fazer um produto que na verdade verdadeira nem é tão genuíno assim, entende?
Dito isso, é preciso ressaltar que nós sempre nos colocamos. “Estereótipo” e “Candidato” tão aí pra serem escutadas a torto e a direito. Temos algumas pequenas divergências internas, mas temos nosso pensamento sempre estampado nos shows, músicas, etc. O disco novo, em certo sentido, toca nesse assunto. O Brasil tem um governo que divide e prega tudo que há de pior, o país está dividido, o disco fala sobre dois, sobre divisão, trata de alguns absurdos. Tá tudo interligado. Estamos numa época em que falta zelo, amor, olhar sobre o outro. Não é do nosso DNA ser panfletário, avaliamos que o buraco é mais embaixo.
Gazeta da Notícia – O que vem de novidades ainda em 2019?
Kanduras – Muita coisa! Lançamos em setembro, o primeiro single, “Pedi a Conta”. Em outubro, laçamos o segundo single ‘ Ave de Nós’. E por fim, bem no começo de novembro, a primeira parte do disco será disponibilizada em todas as plataformas digitais. É importante dizer que o trabalho será divido em duas partes, mais ou menos como num quebra cabeça, tudo fará sentido no final.
Gazeta da Notícia – Quais são as referências musicais da banda?
Kanduras – Pergunta muito difícil porque somos em 6, cada um tem sua peculiaridade. Pra sintetizar, posso afirmar que a gente gosta de misturar música brasileira, ritmos tipicamente brasileiros, com o rock, ska, reggae… Às pessoas que conhecem os dois trabalhos anteriores classificam nosso som como “indie”. Hoje em dia tudo tá nessa prateleira, rs. É possível que essa percepção sofra alterações com esse álbum que tá chegando. Mantivemos essa característica ligada ao ska, com instrumentos de sopro. No entanto, há também uma presença marcante de elementos da música pop, o disco tem bastante violão de aço, teclado, percussão, tem bastante ambiência. Pra citar alguns artistas que a gente escutou muito nesse último ano: The Police, Paralamas do Sucesso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, The Beatles, Radiohead, Erasmo Carlos, Skank e Chico.