Demência do Pugilista: A Doença que Atingiu Maguila e as Semelhanças com o Alzheimer – Dr. Luiz Severo

A demência do pugilista, conhecida também como encefalopatia traumática crônica (ETC), é uma condição neurodegenerativa que resulta de múltiplos traumas repetitivos na cabeça, ocorrendo principalmente em atletas de esportes de contato, como boxeadores e jogadores de futebol americano. 

No Brasil, essa doença tornou-se mais conhecida após acometer a lenda do boxe, Maguila, que faleceu em decorrência dela, e traz à tona os desafios de uma condição que compromete gradualmente o cérebro e impacta profundamente a vida dos pacientes e seus familiares. A demência do pugilista desenvolve-se ao longo de anos de impactos repetitivos, causando microlesões cerebrais que levam a uma degeneração progressiva do tecido cerebral e à perda de funções cognitivas, emocionais e motoras. Esse processo causa o acúmulo de proteínas tau, que formam emaranhados neurofibrilares no cérebro, semelhante ao que ocorre na doença de Alzheimer, mas com diferenças importantes. 

Dr. Luiz Severo Bem Junior explica que, enquanto a demência do pugilista surge principalmente em função de traumas repetidos na cabeça, o Alzheimer tem origem multifatorial, envolvendo fatores genéticos e ambientais, com sintomas que geralmente se manifestam após os 65 anos e progridem mais lentamente. Os sintomas da demência do pugilista, por outro lado, tendem a aparecer em ex-atletas na faixa dos 30 aos 50 anos, com uma progressão mais acelerada. 

Nos estágios iniciais, a demência do pugilista provoca mudanças de comportamento como agressividade e depressão, além de sintomas motores que lembram o Parkinson, como tremores e rigidez muscular, enquanto no Alzheimer, a perda de memória recente e desorientação são sintomas predominantes desde o início. Dr. Luiz Severo explica que a demência do pugilista se caracteriza por afetar principalmente áreas do cérebro responsáveis pelo comportamento e movimento, como o tronco cerebral e os lóbulos frontais, enquanto no Alzheimer, as lesões se concentram no hipocampo, área associada à memória. O diagnóstico da demência do pugilista é desafiador e, em muitos casos, só pode ser confirmado post-mortem. Durante a vida, a identificação da doença se baseia no histórico de traumas, sintomas clínicos e exclusão de outras doenças neurodegenerativas. Infelizmente, não há cura para a demência do pugilista, e o tratamento é focado no alívio dos sintomas, com o uso de medicamentos para controle de humor e agitação, terapia ocupacional para auxiliar nos déficits motores e apoio psicológico. 

A história de Maguila destaca a importância de se falar sobre essa condição e sobre a conscientização quanto aos riscos de traumas repetidos no esporte, mostrando a importância de uma abordagem preventiva e a necessidade de mais pesquisas para encontrar alternativas de tratamento e proteção para os atletas.

Dr. Luiz Severo Bem Junior Médico neurocirurgião e especialista em tratamento da dor, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e da Sociedade Brasileira de Estudos para Dor e Cefaleias, Dr. Luiz Severo lançou o livro Você Não Precisa Sentir Dor, apresentado na Bienal de São Paulo deste ano. Ele também é integrante do Programa Jovens Lideranças Médicas da Academia Nacional de Medicina, tendo treinamentos em instituições nacionais e internacionais, como a Harvard University em Boston, USP em São Paulo e Hospital da Restauração em Recife.