Entre vídeo virais e desafios do cotidiano: como a falta de suporte afeta alunos autistas; especialista comenta
Nos últimos tempos, o TikTok tem se consolidado como uma vitrine para os desafios e inovações no campo da educação. Entre as tendências emergentes, um tema se destaca: a dificuldade enfrentada por professores ao atender alunos com autismo, especialmente na ausência de suporte especializado.
A viralização desses vídeos tem revelado tanto os obstáculos quanto as estratégias que os educadores estão empregando. Para aprofundar essa discussão, conversamos com Mara Duarte, neuropedagoga, psicopedagoga e diretora pedagógica da Rhema Neuroeducação, empresa dedicada a oferecer conhecimento para profissionais da educação e pessoas envolvidas no processo de neurodesenvolvimento infantil, abrangendo tanto as áreas cognitivas e comportamentais quanto as afetivas, sociais e familiares.
Gazeta da Notícia: Como a falta de suporte especializado pode impactar a habilidade dos professores em atender adequadamente alunos com diagnóstico de autismo?
Mara Duarte: A falta de suporte especializado pode tornar o trabalho dos professores muito mais desafiador, especialmente quando lidam com alunos com autismo. Sem a orientação e os recursos adequados, adaptar o ambiente de aprendizagem e as estratégias pedagógicas torna- se um desafio. Isso pode resultar em menor eficácia no ensino, frustração tanto para o professor quanto para o aluno, e, em alguns casos, o agravamento dos desafios enfrentados pela criança.
Gazeta da Notícia: Quais estratégias você recomenda para que professores possam identificar e apoiar alunos com sinais de autismo, mesmo na ausência de um diagnóstico formal?
Mara Duarte: Mesmo sem um diagnóstico formal, os professores podem observar sinais de autismo, como dificuldades de comunicação, padrões repetitivos de comportamento e desafios nas interações sociais. Para apoiar esses alunos, é crucial criar um ambiente de sala de aula estruturado e previsível. Utilizar ferramentas visuais, como cronogramas e cartões de comunicação, promover atividades que incentivem a socialização em pequenos grupos e manter uma comunicação aberta com os pais e outros profissionais são práticas recomendadas. Essas estratégias ajudam a ajustar as abordagens pedagógicas de acordo com as necessidades individuais dos alunos.
Gazeta da Notícia: Na sua opinião, qual a importância da formação continuada dos professores para lidar com o autismo, e como ela pode ser implementada de maneira eficaz nas escolas?
Mara Duarte: A formação continuada é essencial para que os professores estejam atualizados sobre as melhores práticas e estratégias de ensino para alunos autistas. Ela pode ser implementada por meio de workshops, cursos de especialização e até mesmo formações oferecidas dentro das escolas, com a participação de especialistas em autismo. Esse tipo de formação não apenas aumenta a confiança dos professores, mas também melhora a qualidade da educação inclusiva, proporcionando um suporte mais eficaz para os alunos com necessidades especiais.
Gazeta da Notícia: Como a comunidade escolar, incluindo pais e administradores, pode colaborar para criar um ambiente mais inclusivo e suportar melhor os professores que trabalham com alunos autistas?
Mara Duarte: A criação de um ambiente inclusivo depende da colaboração de toda a comunidade escolar. Pais, administradores e outros membros da equipe escolar podem facilitar a comunicação entre casa e escola, participar de programas de sensibilização sobre o autismo, apoiar financeiramente a implementação de recursos e adaptações necessárias, e promover uma cultura de aceitação e respeito pelas diferenças. Quando todos trabalham juntos, os professores se sentem mais apoiados e os alunos autistas têm maiores chances de sucesso.
Gazeta da Notícia: Você acredita que os relatos no TikTok sobre a falta de suporte para professores refletem uma realidade mais ampla nas escolas? Como essas plataformas podem ser usadas para promover mudanças positivas?
Mara Duarte: Sim, os relatos no TikTok sobre a falta de suporte muitas vezes refletem uma realidade mais ampla enfrentada por muitas escolas. Embora essas plataformas possam destacar os desafios dos educadores, elas também têm o potencial de promover mudanças positivas. Ao compartilhar estratégias eficazes, conectar professores a recursos e suporte, e pressionar por políticas educacionais que priorizem o apoio adequado para todos os alunos, especialmente aqueles com necessidades especiais, essas plataformas podem ajudar a criar uma maior conscientização e impulsionar melhorias no sistema educacional.
A viralização de vídeos de professores no TikTok não apenas expõe as realidades enfrentadas nas salas de aula, mas também oferece uma oportunidade para transformar desafios em soluções inovadoras. Com o conhecimento e apoio certos, é possível criar uma educação mais inclusiva e eficaz para todos os alunos.