Encerramento da recuperação judicial da Eternit: lições de resiliência e transformação empresarial

Com inovação, diversificação e estratégia jurídica, a Eternit supera a crise do amianto e oferece ensinamentos valiosos para o mercado após seis anos de reestruturação.

A Justiça aprovou recentemente o encerramento do processo de recuperação judicial da Eternit (ETER3), marcando o fim de uma jornada que durou mais de seis anos. A empresa, que enfrentou uma crise profunda devido à proibição do uso de amianto no Brasil, conseguiu superar as adversidades e se reestruturar com sucesso. Mas o que podemos aprender com essa experiência? A advogada e administradora judicial, Jéssica Farias, oferece uma análise detalhada dos fatores que contribuíram para a saída da Eternit da recuperação judicial e o que isso representa para outras empresas em situações semelhantes.

Segundo Jéssica Farias, um dos principais ensinamentos do caso Eternit é a importância de antecipar crises e agir rapidamente. “A decisão da Eternit de entrar com o pedido de recuperação judicial em 2018, logo após a proibição do amianto, foi crucial para a sobrevivência da empresa. A rapidez na tomada de decisão permitiu que a companhia tivesse mais opções para reestruturação e negociação com os credores”, afirma Farias. Ela destaca que o “timing” é essencial em processos de recuperação, pois quanto mais cedo a empresa admite suas dificuldades e busca soluções, maiores são as chances de sucesso.

A inovação foi um elemento central na estratégia da Eternit para se reinventar. A transição do uso de fibra de amianto para a fibra de polipropileno, embora desafiadora, mostrou-se uma medida eficaz. “A capacidade da Eternit de adaptar seus produtos e processos à nova realidade do mercado foi fundamental. A empresa não apenas substituiu a matéria-prima, mas também investiu em novas tecnologias, como as telhas fotovoltaicas, o que ampliou seu portfólio e a colocou em um novo patamar competitivo”, analisa Farias.

Outro ponto crucial abordado por Jéssica Farias é a necessidade de diversificação do portfólio de negócios. “A recuperação judicial da Eternit também nos ensina sobre a importância de não depender de um único produto ou mercado. A crise foi, em grande parte, desencadeada pela dependência da empresa no amianto. A diversificação para áreas como sistemas construtivos e o setor fotovoltaico é uma resposta estratégica para mitigar riscos futuros”, observa a especialista.

Jéssica Farias também ressalta a importância da negociação e da proteção jurídica durante o processo de recuperação. A Eternit optou por prolongar sua recuperação judicial para garantir uma blindagem contra possíveis processos trabalhistas futuros, especialmente relacionados à exposição ao amianto. “Essa decisão mostra a importância de uma negociação cuidadosa com os credores e a antecipação de riscos legais, o que pode evitar problemas no futuro e garantir a sustentabilidade da empresa”, explica Farias.

Por fim, a recuperação da Eternit destaca a necessidade de uma gestão financeira rigorosa. A empresa conseguiu reduzir significativamente sua dívida, que passou de R$ 239 milhões no início do processo para um saldo final de R$ 36,8 milhões. “O controle sobre as finanças e a venda de ativos não operacionais foram fundamentais para que a Eternit pudesse sair da recuperação judicial em uma posição financeira mais saudável”, conclui Jéssica Farias.

O caso da Eternit oferece lições valiosas para empresas que enfrentam crises. Antecipação, inovação, diversificação, negociação estratégica e gestão financeira são pilares fundamentais para superar desafios e alcançar uma recuperação bem-sucedida. Como aponta Jéssica Farias, “a história da Eternit não é apenas sobre sobrevivência, mas sobre transformação e resiliência em um mercado em constante mudança”.