Startup DeCARB busca R$ 20 milhões em investimentos para capturar 166 mil toneladas de CO2 por equipamento instalado

Startup possui parcerias com o Instituto SENAI de Inovação em Biomassa (ISI Biomassa) e a mineradora Anglo American para o desenvolvimento do protótipo da sua tecnologia

O aquecimento global tem trazido grandes preocupações e são inúmeros os debates sobre as melhores soluções de descarbonização, ou seja, soluções que visam reduzir as emissões dos gases de efeito estufa. Na última Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 28), finalizada em dezembro, as tecnologias de captura de carbono foram reconhecidas, no texto final do evento, como importantes soluções para a descarbonização e o combate ao aquecimento global. Os debates sobre a captura de carbono têm sido constantes, e no Brasil já estão em tramitação projetos de lei que visam regular o tema.

É neste cenário que a DeCARB, primeira startup brasileira a desenvolver uma tecnologia de captura de carbono, está customizando a sua tecnologia de descarbonização para a cadeia industrial de mineração em parceria com a Anglo American, corporação global líder em seu segmento. A startup quer captar R$20 milhões para aplicar no processo de fabricação dos materiais de captura, financiar a produção de três equipamentos, projetados como o início da sua produção em série, e ter capital de giro. Com o equipamento funcionando de forma ininterrupta, a estimativa é que sejam capturadas 166 mil toneladas de CO2 anualmente em cada um dos equipamentos instalados.

A tecnologia

Fundada em 2022 em Salvador, Bahia, a empresa está em fase de prototipação tecnológica para capturar o gás carbônico (CO2) diretamente das tubulações e chaminés industriais, e portanto, antes que o gás chegue à atmosfera. Para a fabricação do material que captura o CO2, utilizado dentro do equipamento, a empresa utiliza um tipo de resíduo de origem biológica, reciclado. “Esse é um atributo importante da DeCARB, pois além de utilizar um material biodegradável, a sua reutilização evita que sejam emitidos gases de efeito estufa que ocorreriam no seu processo de decomposição”, destaca Alanna Vieira, COO da DeCARB. E além de ser sustentável, a tecnologia se provou altamente efetiva, pois na prova de conceito realizada durante o programa FIEMG Lab 4.0, as taxas de captura do CO2 alcançaram 99%.

Segundo Alanna, as tecnologias para a descarbonização ainda são incipientes em todo o mundo. Ela afirma que muitas tecnologias capturam o CO2 quando ele já foi emitido na atmosfera, demandando equipamentos de grandes dimensões que apresentam baixa efetividade e alto custo. “São pouquíssimas as empresas que capturam os gases diretamente das plantas industriais, como é a nossa proposta. Estamos passando por todas as etapas de validação da nossa tecnologia, para garantir o máximo de otimização, com mais redução de custos e o máximo de eficiência. Dessa forma, a DeCARB é a única tecnologia brasileira de prevenção das emissões de CO2 diretamente de fontes industriais”, explica. A ideia é que o equipamento, com dimensões semelhantes às de um contêiner, possa ser utilizado por indústrias de segmentos apontados como os grandes emissores de gases de efeito estufa, que além da mineração, também incluem as cimenteiras, siderúrgicas, óleo e gás, petroquímicas, químicas e de energia. Segundo Flávio Pietrobon, CEO da empresa, há um grande potencial econômico nas soluções. “Para a geração de receitas, queremos vender nossos próprios equipamentos e comercializar os gases capturados nas plantas industriais”, detalha.

Em paralelo ao desenvolvimento da tecnologia de captura de CO2, a DeCARB está realizando pesquisas para o desenvolvimento de um segundo equipamento, que fará a conversão do gás em materiais sólidos. “Queremos transformar o CO2 em produtos economicamente viáveis e de grande demanda pelo mercado. O equipamento promoverá reações químicas para transformar o CO2 em produtos sólidos, o que impedirá a liberação do carbono na atmosfera, promovendo o seu sequestro, ou neutralização”, complementa Flávio. E a DeCARB também está desenvolvendo projetos de consultoria de análises ambientais, diagnósticos e diretrizes técnicas para as indústrias reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa.

Willian Gomes, pesquisador do Instituto SENAI de Inovação em Biomassa, destaca que a parceria com o instituto é importante para a identificação e implementação de abordagens inovadoras na captura e mitigação de CO2. “O ISI Biomassa oferece expertise especializada em biomassa e tecnologias limpas. Nossa experiência em projetos de PD&I e tecnologias através da plataforma de Tecnologias de Descarbonização permite a criação e otimização de processos eficazes que promovem a redução das emissões de gases de efeito estufa, alinhada com os objetivos de sustentabilidade ambiental e energética”, afirma ele.

Para apoiar esse desenvolvimento, a DeCARB possui parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso do Sul (FIEMS) – por meio do ISI Biomassa e com a Anglo American.

Trajetória

A ideia da tecnologia surgiu em 2005, enquanto Flávio ministrava uma aula de doutorado sobre termodinâmica em chaminés. Entendendo que a ideia representava um enorme potencial de impacto no mundo, na sequência Flávio elaborou e apresentou um projeto de desenvolvimento tecnológico ao CNPQ e se tornou bolsista de produtividade. Assim, parte do valor da bolsa recebida durante esses anos tem sido utilizada para o desenvolvimento da tecnologia. E já em 2019, como projeto empresarial, a tecnologia foi apresentada em um Desafio da Petrobras, quando recebeu ajustes em sua dimensão e estrutura.

“Em 2021, com a chegada de Alanna à coordenação operacional do projeto, nos inscrevemos no FIEMG Lab 4.0, programa de Inovação Aberta que visa integrar startups e indústrias, e para a nossa grata surpresa, fomos selecionados para compor o programa. Fizemos a modelagem computacional já com as dimensões atuais e passamos a ter o apoio do ISI Biomassa e da Anglo American para o desenvolvimento do protótipo”, destaca Flávio.

Desde então, a DeCARB colecionou importantes premiações e reconhecimentos, como sua tripla premiação no programa FIEMG Lab 4.0, a presença na lista 100 Startups to Watch 2023, elaborado pela revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, a participação no programa Ignition do Braskem Labs, além de participações em grandes eventos como o Rio Innovation Week, Web Summit, Fórum SAE Brasil de Mobilidade e Startup Summit.

Sobre a DeCARB

A DeCARB é uma startup que surgiu como uma spin-off da startup RECICLI em Salvador, na Bahia, em 2022, com o objetivo de levar ao mercado sua inovação tecnológica de descarbonização. A empresa visa elaborar uma solução totalmente sustentável para a captura do carbono, diretamente das chaminés das indústrias, além de converter o gás carbônico em materiais sólidos que não causem impacto para o meio ambiente. Com suporte da FIEMS, ISI Biomassa e da mineradora Anglo, a startup já marcou presença no lista das 100 Startups to Watch 2023 elaborado pela Pequenas Empresas Grandes Negócios.