O que o bootstrapping pode ensinar para as grandes empresas?

Sua startup parou de crescer? Volte uma casa e lembre o que esqueceu

**Por Klaus Riffel

Em seu quarto, no Vale do Silício, Steve Jobs e o colega Steve Wozniak criaram a Apple com apenas US$ 1.350, enfrentando recusas iniciais de Atari e HP. Em 2021, a marca da maçã consagrou-se como a primeira empresa do mundo a atingir US$ 3 trilhões em valor de mercado. Abrir uma startup pode ter um apelo romântico, não é à toa que foi inventada e repetida a história de que a Apple foi criada em uma garagem.

O nascimento da Apple é uma lição a ser lembrada nos dias de hoje, quando vemos que investimentos milionários em empresas iniciantes não fazem mais muito sentido. Ainda que o mercado das startups tenha apresentado um crescimento de 174% em 2021, em relação ao ano anterior, a alta da taxa de juros e a inflação pedem cautela. Demissões em massa também já são uma realidade entre unicórnios.

Neste cenário, um modelo de negócio pode resgatar valores importantes. É o bootstrapping, termo em inglês para a alça da bota e para o feito de se levantar por esforço próprio, mas que, no empreendedorismo, virou sinônimo de montar uma empresa usando apenas recursos limitados e próprios. Cerca de 1.685 startups brasileiras tocam o negócio sem o apoio de investimentos externos. O número é da Associação Brasileira de Startups (Abstartups).

Quando se é um empreendedor bootstraper, a questão não é só velocidade de crescimento, mas a rentabilidade que a melhoria proporcionada pelo produto garante à empresa. Muda a lógica de grandes gastos forçados, para testes mais precisos, sem a possibilidade de grandes desperdícios. A atenção aos detalhes é fundamental, focando-se sempre em aprimorar o desempenho da empresa com os melhores resultados percebidos.

Talvez, o futuro das startups ou das grandes empresas brasileiras seja voltar uns passos para trás e lidar com autonomia e foco na operação, buscando a sustentabilidade financeira sem virar refém de captações externas. Capital externo pode ser útil, quando bem empregado, dentro de um plano estruturado de crescimento.

**Klaus Riffel é fundador e CEO da startup Whom e da empresa Doc9