Personal friend: embora enfrente paradigmas, serviço cresceu no Brasil durante a pandemia

A personal friend Renata Cruz fala sobre o serviço, sua agência, além da aceitação e entraves dos brasileiros quanto ao "amigo de aluguel"

Renata Cruz já possui quase duas décadas como personal friend, tendo prestado esse serviço em um dos continentes que mais abraçam essa ideia: a Europa.

Nascido no Japão, o “amigo de aluguel” possui muitas finalidades, dentre elas o desabafo.

Coach de PNL e liderança e coach em desenvolvimento humano, uniu seu conhecimento na área ao seu lado empreendedora e em 2020 fundou a Inn Voga Personal Friend no Brasil, uma agência para ofertar esse serviço de maneira mais segura e idônea.

Isso porque é um serviço não regulamentado e como toda área, existem charlatões.

E se 2020 foi um ano atípico em diversos sentidos, principalmente emocionalmente falando, conversamos com ela para sabermos mais sobre esse nicho e também a receptividade do serviço no país.

No ano de 2020 como foi a busca por personal friend diante do cenário em que vivenciamos?

Renata Cruz – Em virtude da pandemia, este cenário caótico no qual ainda  estamos vivendo, houve um aumento expressivo na procura pelos nossos serviços para atendimento on-line.

No primeiro momento foi bem pior, em torno de 35% das pessoas que buscaram a plataforma estavam angustiadas, desanimadas e  preocupadas com o futuro, já num estado de ansiedade e desencadeando a depressão, preocupações com o trabalho, desemprego, redução salarial, relacionamentos amorosos, carência e o próprio distanciamento de familiares e amigos. Resumindo: “o que vai ser da minha vida agora?”.

Em Portugal, por exemplo, falei com uns colegas e me disseram que também houve um aumento da procura de aproximadamente uns 40%, onde os atendimentos on-line chegaram a passar das 2 da manhã.

E isso é normal, pois durante a madrugada naturalmente algumas pessoas pensam mais à noite, já que estão sozinhas a noite, supostamente deveriam estar relaxadas, mas sentem insônia de tanta preocupação.

Eu mesma atendi algumas clientes portuguesas antigas, pois ainda continuo atendendo desde que voltei para o Brasil, e vivenciei tudo isso.

A premiada série “Amigo de Aluguel”, protagonizada por Fred (Felipe Abib), mostra que esse serviço pode ajudar em diversos momentos

Você comenta que geralmente as pessoas buscam um personal friend em “um momento de turbulência”. O que seriam esses momentos de turbulência e como um personal friend pode ajudar de uma maneira que um amigo do cotidiano ou um familiar não possam?

Renata Cruz – Todos nós passamos por momentos de turbulência, afinal de conta, faz parte da vida.

Infelizmente não existe só flores e sim mais espinhos, tudo faz parte do nosso aprendizado e evolução espiritual.

Esses momentos de problemas são com relacionamentos, família ou trabalho, entretanto, muitas pessoas nos procuram também quando têm aquelas dúvidas “corroendo” o seu cérebro (Risos).

O nosso papel é o de escutar e aconselhar quando necessário, sem julgamentos e preconceitos, pois não aconselhamos com base num diagnóstico e não analisamos ninguém.

Inclusive, aproveito esse ensejo para dizer que essa é a diferença entre o nosso serviço com o de um especialista da área da saúde mental.

Então, por exemplo, a pessoa está com problemas, ou seja, aquele habitual “sem muita cabeça e paciência”, e ela quer conversar com alguém fora do seu círculo de amigos. Isso não significa que ela não tenha amigos que sejam “de verdade”, apenas tem as razões dela ou esses não estão disponíveis naquele momento pontual.

Nós, personal friends, não substituímos amigos, mas sim apoiamos num momento em que eles não podem estar presente. Muitos pensam que só pessoas solitárias e sem amigos nos procuram e isto não é verdade, pois qualquer pessoa pode obter os nossos serviços.

Infelizmente, gostam muito de rotular!

Quando você resolveu abrir uma agência voltada para oferecer o serviço de personal friend aqui no país, quais foram as maiores dificuldades e as facilidades que você encontrou?

Renata Cruz – Aqui no Brasil eu tive algumas dificuldades e até entraves, houve e ainda há muita quebra de paradigmas e preconceitos.

Alguns exemplos: “Eu pagar para ter um amigo é o fim do mundo!”. “Este povo já não sabe mais o que criar para enganar, charlatanismo, amigo não se paga!”. “Mas isto deve ser caridade, não um serviço”, dentre outros.

Esse é um serviço como outro qualquer, em que as pessoas disponibilizam o seu tempo e precisam ganhar dinheiro para pagar as suas contas, além de também serem pessoas que possuem algum conhecimento na área humana. Eu posso fazer caridade numa instituição ou realizar alguns atendimentos gratuitos por mês, porém, este serviço é pago por motivos óbvios.

Muitos brasileiros acham que tudo tem que ser gratuito e é uma visão que respeito, mas considero errada. Para mim existem muitas crenças limitantes no que acabei de mencionar acima, e talvez também por uma questão cultural , em que século vivemos, não é mesmo?

Renata Cruz é personal friend há mais de 17 anos, com grande experiência principalmente em Portugal e na Espanha

O serviço é rentável para quem oferece esse serviço? Você poderia nos dar uma estimativa de valores? E quais projeções você acredita que o personal friend conquiste no Brasil para esse ano, 5 e 10 anos, já que é algo mais inovador quando comparado ao Japão, Europa e Estados Unidos?

Renata Cruz – O serviço de personal friend vai passar a ser mais rentável a partir do momento em que as pessoas abrirem mais a mente, porque algumas ainda não entendem o serviço e têm vergonha de dizer.

Mas alguém tem que saber o que elas fazem da vida delas? Sabemos que o preconceito pode habitar em quase todas as pessoas e, muitas vezes, nem elas percebem, pois preferem seguir as normas das suas crenças limitantes. E isso ainda está muito intrínseco no Brasil.

Em relação à estimativa de 5 a 10 anos, será muito boa. Considero de uns 65%, o que é ótimo em comparação ao cenário atual e já contando que não podemos agradar a todos.

Acredito que pouco a pouco vou conseguindo esclarecer mais a ideia do serviço e abrindo mais o leque, quebrando preconceitos e paradigmas, ou suas próprias crenças limitantes.

Por isso invisto bastante em explicações no site da agência, para que as pessoas possam se informar sobre o assunto de uma forma que essa ideia mude conforme o tempo.

 

Serviço:

Inn Voga Personal Friend –  innvoga.com.br e @agencia_innvoga_personalfriend

Renata Cruz:  @renatacruz_personalfriend.