Por que usar o termo feminicídio é tão importante?

Flávia Albaine, Defensora Pública e idealizadora do projeto Juntos pela Inclusão Social, explica o porquê da palavra “feminicídio” ser importante

Em uma época em que tantos casos de feminicídio estampam manchetes de jornais, sites e causam pedidos e debates nas redes sociais, falar sobre o problema não é mais opcional: faz parte da vida social.

Segundo levantamentos de 2019, o G1/Globo News constatou um aumento de 76% de casos no primeiro trimestre de 2019 em São Paulo, com 37 mulheres vítimas contra 21 no ano passado.

O pior: de cada 10, 8 foram dentro de casa, por autores conhecidos da vítima – marido, companheiro ou ex.

Flávia Albaine, Defensora Pública de RO, é uma figura atuante na defesa das mulheres, além de buscar a inclusão social. Isso tanto em sua vida profissional, como pessoal.

Por isso, há quase 2 anos criou o “Juntos pela Inclusão Social”, projeto que a faz levar informações e respaldo para nichos pontuais do Brasil. Ainda que tenha nascido em Rondônia, ela participa de eventos em diversas cidades.

Assim, ela e sua equipe conseguem ampliar o número de pessoas que têm direitos e deveres, porém, nem sempre sabem ou são esclarecidos sobre isso.

Ela explicou o porquê de usar o termo “feminicídio” ser importante, já que faz parte da nossa realidade. E mais: em grande parte são negras, além de apenas 10% das mulheres que são vítimas desses casos procuram as delegacias.

Confira o bate-papo!

Por que o uso do termo feminicídio é importante?

Flávia – É importante para distinguir uma espécie de homicídio ainda mais grave, que é aquele praticado contra a mulher com base em sua condição de gênero.

Os reconhecimentos jurídicos, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio tem algum resultado?

Flávia – Sim. Podemos dizer que tais leis foram importantes para uma maior proteção das mulheres em situação de violência doméstica e para a reflexão da sociedade em torno do tema.

Entretanto, infelizmente ainda vemos muitos casos de violência contra a mulher na prática, o que nos faz refletir sobre como fazer com que tais leis alcancem maior efetividade.

Em termos de políticas públicas, o que mais poderia ser feito para reverter o quadro de feminicídio?

Flávia – Educação popular sobre os direitos das mulheres; programas de conscientização, proteção e estímulo para as mulheres vítimas de violência doméstica no sentido de fazer com que elas tenham forças emocionais para sair de um relacionamento abusivo; trabalho em articulado entre os diversos órgãos de rede para a proteção da mulher, maior eficácia na fiscalização das medidas protetivas trazidas pela Lei Maria da Penha.

A violência contra a mulher é uma realidade que afeta em maior número as mulheres negras. Por exemplo, enquanto o número de homicídios de mulheres brancas caiu nos últimos anos, o de mulheres negras aumentou, segundo dados do Mapa da Violência. A que você acha que se deve isso?

Flávia – Isso se deve ao racismo presente em nossa sociedade. Podemos dizer que essas mulheres negras vítimas de violência estão numa situação de “vulnerabilidade interseccional”, ou seja, sofrem preconceitos por serem mulheres e por serem negras.

As necessidades das mulheres negras são muito peculiares e sem que seja feita uma profunda análise do racismo brasileiro, é impossível atender às urgências do grupo.

Objetivando atender esse grupo específico de mulheres é que surgiu o feminismo negro.

Serviço:

Juntos pela Inclusão Social – www.facebook.com.br/juntospelainclusaosocial

(Créditos das imagens: Revista Exame/ Divulgação)

Em caso de Feminicídio, ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher